Sábado, 1 de Setembro, nada mais além de uma manhã normal: café, cigarro e leitura. A TV tá ligada e ouço uma chamada num programa da Globo chamado ‘Plug’: “Hoje nós vamos até a UPE falar de Movimento Estudantil”. Me engasguei com café dando risada e esperei.
A matéria começa como qualquer clichê: um velho vídeo de manifestação dos anos 60/70. Senti falta de um cumbaiá de fundo para se ter a mais descarada resignificação que coloque o movimento estudantil atual no mesmo patamar de luta daqueles anos. Em história chamamos isto de narrativa de origem – uma safadeza em busca de um passado idealizado como projeto de futuro.
Ponto número 1: A juventude organizada pela UNE naqueles tempos capitulou tanto quanto o PCB na instauração da ditadura e depois abandonou a organização das massas pela aventura pequeno-burguesa da guerrilha (“Tarda, tarda e também falha! Aqui está presente a guerrilha do Araguaia”).
Ponto número 2: Quem já leu Roberto Schwartz sabe que ali foi quando a cultura de massa imperialista foi enfiada rabo adentro dos artistas nacionais – e eles gostaram. Ainda se justificaram sob todo um suposto estigma de rebeldia e modernidade (alguém já viu esse filme com a burguesia urbana...?), transformaram todo o potencial revolucionário de uma juventude em uma mescla grosseira de reformas culturais, drogas e cumbaiá.
Um começo de matéria óbvio vindo do PC do B, em seu famoso aparelhamento da UNE, que atrela o projeto Memória do Movimento Estudantil (MME) com a mesma e famigerada rede Globo – que com todas as outras redes de televisão não divulgou uma nota sequer sobre a marcha da CUT e da UNE ou sobre a Jornada de Lutas da UNE (ver postagens anteriores). Será que é o único exemplo que vem a mente acerca da Globo? Qualquer esquerdista, ativista ou anarco-burguês consegue gritar o dia inteiro sobre isto.
Este mesmo projeto do MME até que para nós historiadores até é um excelente exemplo de manipulação barata do passado. Recortam, colam, esquecem, às vezes inventam e disso tudo sai um passado muito bonitinho, pra ninguém deixar de esboçar um sorriso quando lê. Um exemplo, fora o da capitulação no golpe de 64? O posicionamento da Une contra a Quinta Coluna (nazismo, fascismo) durante a II Guerra Mundial. Não há uma única palavra sobre o quanto os trotskistas (Mário Pedrosa inclusive) brigaram dentro da instituição para se tornar uma frente da entidade, contra o posicionamento capitulador dos stalinistas. Que sirva de lição para todos os que se acovardam diante da discussão: Conlute e Conlutas (ambos PSTU), Intersindical (PSOL) e agora Corrente Sindical Classista, do PC do B, que quer sair da CUT.
Bem, voltando para a matéria em si: Dentro do casarão da UPE (vulgo Casa do Corvo, por que será que não filmaram os banheiros propositadamente entupidos?) com somente a direção da UJS... chorando! Um escarcéu do tipo “gente, vamos para a manifestação, é pra vocês... mas ninguém se mobiliza”. A mesma UPE que não mobilizou uma única pessoa para a Jornada de Lutas da UNE ao contrário do Brasil inteiro! Um atestado de incompetência política da direção. Continuaram as lamentações e no meio de toda esta bobagem escuto a frase mais escabrosa do ano: “Nós estamos reconstruindo o Movimento Estudantil. Era até mais fácil na época da ditadura militar”.
POMBAS!
O que comentar diante de uma idiotice destas? Será que eles não deixam de mobilizar com medo do “pai dos pobres” tio Aldo Rebelo? BOBAGEM! Qualquer um que conhece a configuração de um partido stalinista sabe que isto não existe, é verticalização na porrada (“eu bato aí você obedece”). Então o que ocorre? O PC do B é um partido burguês, reacionário só que com uma aurora vermelhinha. A diferença é que hoje em dia ninguém mais acredita em Althusser e em seus cortes epistemológicos.
Afinal é isto o que fazemos como historiadores: Um plano social de futuro, que só o será quando aplicado na prática. Citando Karl Marx "a teoria se faz força material quando penetra nas massas".
NÓS SOMOS ESTUDANTES E A UPE É PRA LUTAR!
UPE, SÁBADO DE MANHÃ
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